04 março, 2009

Escape

O frio toca-lhe na pele suavemente. Faz uma carícia meio estranha, acalma e arrepia. A noite está estrelada, a praia silenciosa, a areia húmida.
Ela precisava de respirar. Sentia-se presa no seu covil, a que um dia, sem se aperceber começou a chamar de casa. Mas só casa, nunca tivera nada a que chamar lar. Pegou no carro e com solavancos barulhentos dirigiu-se á praia. Pensava que assim se iria sentir mais livre, deitou-se na areia, e ficou a olhar para o céu, entretanto reparou na lua mordida, amarela, brilhante como um candeeiro, iluminava a área toda, disfarçava a noite. A lua por vezes fazia isso. Vanda respirou fundo, absorveu o cheiro salgado, arrepiou-se outra vez, era do frio… Mesmo assim não se sentia livre, o problema não era do cheiro a fechado e a tabaco de casa, não era dos objectos, e revistas e aparelhos electrónicos e fichas espalhados por todo o lado, não era das luzes, nem dos sons da vida moderna que a incomodavam! Ela nem sabia o que era, pôs se ali ao relento a ponderar o assunto. Acendeu um cigarro, o maço estava quase no fim, “não faz mal”, pensa ela, “assim a carteira fica mais leve, é mais um peso de que eu me posso soltar”. Esse tipo de coisas também a prendia: dinheiro, posses, horários, prazos, deveres e obrigações. Que coisa mais chata!
Se ao menos pudesses ficar ali na praia… “talvez até morreria de hipotermia, nunca se sabe!” Mas com tanta coisa a prende-la ali, o mais provável é que isso não aconteceria.


Aqueles dias chatos em não sai nada.

2 comentários:

Anónimo disse...

De volta à praia, mas desta vez noutra história, noutra situação.
Gostei especialmente do “Mas com tanta coisa a prende-la ali, o mais provável é que isso não aconteceria.” É o cúmulo da ocupação.

Uma "página de diário"?
escreve mais ;)

bjo

Borboleta disse...

Menina Iris.. Gosto dos teus textinhos!!

=D=D