26 agosto, 2009

O meu poema inacabado:

A noite ergue-se mais uma vez,
As estrelas brilham lá longe.
Escondidas, vadias, na sua timidez,
Apoderam-se de sonhos meus,
Influenciados por nada mais
Que genuínos atributos teus.
Aqueles de mentiras e enganos
E outros ainda de pensamentos profanos.

Não sinto dor, não sinto muito meu amor.

09 abril, 2009

Arte



Não sou pintora mas gosto de juntar cores e fazer algo que fica sempre um pouco abstracto(como as paredes da minha varanda).
Não sou fotografa mas gosto de andar com a maq. preparada.
Não sou musica, mas gosto de cantar, por mais desafinado que seja, tomar atenção ás letras e fingir que percebo aquelas conversas sobre dós menores e tempos e compassos.
Não sou actriz mas por vezes dou por mim a imitar sotaques estranhos que ninguém percebe de onde vêm.
Não sou escritora mas finjo que sei escrever!!E é mesmo o que eu mais gostava de ser!

04 março, 2009

Escape

O frio toca-lhe na pele suavemente. Faz uma carícia meio estranha, acalma e arrepia. A noite está estrelada, a praia silenciosa, a areia húmida.
Ela precisava de respirar. Sentia-se presa no seu covil, a que um dia, sem se aperceber começou a chamar de casa. Mas só casa, nunca tivera nada a que chamar lar. Pegou no carro e com solavancos barulhentos dirigiu-se á praia. Pensava que assim se iria sentir mais livre, deitou-se na areia, e ficou a olhar para o céu, entretanto reparou na lua mordida, amarela, brilhante como um candeeiro, iluminava a área toda, disfarçava a noite. A lua por vezes fazia isso. Vanda respirou fundo, absorveu o cheiro salgado, arrepiou-se outra vez, era do frio… Mesmo assim não se sentia livre, o problema não era do cheiro a fechado e a tabaco de casa, não era dos objectos, e revistas e aparelhos electrónicos e fichas espalhados por todo o lado, não era das luzes, nem dos sons da vida moderna que a incomodavam! Ela nem sabia o que era, pôs se ali ao relento a ponderar o assunto. Acendeu um cigarro, o maço estava quase no fim, “não faz mal”, pensa ela, “assim a carteira fica mais leve, é mais um peso de que eu me posso soltar”. Esse tipo de coisas também a prendia: dinheiro, posses, horários, prazos, deveres e obrigações. Que coisa mais chata!
Se ao menos pudesses ficar ali na praia… “talvez até morreria de hipotermia, nunca se sabe!” Mas com tanta coisa a prende-la ali, o mais provável é que isso não aconteceria.


Aqueles dias chatos em não sai nada.

06 fevereiro, 2009

Ele e Ela

Numa noite americana, como todas as outras noites, a lua brilhava de uma forma tão exageradamente incandescente. Ele e Ela encontravam-se mais uma vez, para se libertarem da monotonia do seu dia-a-dia aborrecido.
Eram o segredo um do outro. O vazio e a agitação um do outro. A alma um do outro.
Dizem olá como se não se conhecessem, olham timidamente. Caminham por aquelas ruelas mal iluminadas com os seus candeeiros meio rústicos que dão um tom avermelhado ao ambiente. Caminham para um esconderijo novo. Há sempre algo diferente. Algo para descobrirem um com o outro. Conversam sarcasticamente sobre a sua vida agitada, que consideram rotineira. Quando as luzes acabam, eles dão as mãos. Gostam de ser estranhos um para o outro. Gostam do constrangimento que sentem quando se tocam. Gostam dos arrepios que correm pelos seus corpos.
Entram num prédio há muito abandonado. Vê-se as paredes frágeis. Seminuas. As paredes brancas puras. As paredes com posters cheios de pó, de uma banda que Ela acha reles. Vê-se paredes pretas do fogo. Ao subir as escadas Ela vê um peluche rosa escuro, por causa do pó, em forma de coração. Agarra nele e dá-lhe. Já que esta noite era uma prenda dele, Ela também queria lhe dar algo. Ele sorri. Aceita, apesar de não querer aceitar. Não se quer apegar a Ela. Não quer chegar a casa de manha e ter saudades dela. Mas aceita.
Sobem ao terraço. Primeiro Ela observa a vista. Adora Luzes. Adora Sonhar. Não lhe interessa mais nada. Só os pontos de todas as cores que ela vê no preto da noite. Fecha os olhos, abre os braços, rodopia. As luzes rodopiam com ela, a lua beija-a com os seus raios. Ela voa com as estrelas. Ela sente o cheiro dele e pára. Abraça-o e beija-o. Ele olha-a com carinho e sente pena dela, pela sua ignorância, pela sua doçura, pela sua delicadeza. As surpresas dele ainda não acabaram. Ela olha para o chão e este está repleto de pétalas de rosas. Durante a semana Ela vira Ele na florista e questionara-se para quem seriam todas aquelas rosas vermelhas. O ciúme consumira-a. Agora estava explicado.
No centro do terraço estava um quarto. As paredes eram de vidro. Ele excitado por ela gostar das suas surpresas, levou-a para o quarto. O quarto estava repleto de velas, cheiros afrodisíacos. No canto havia um rádio. Ele pôs um disco. Ele era tão romântico. Havia champanhe que Ele ofereceu e Ela aceitou. Beberam como recém-casados. Dançaram como apaixonados. Beijaram-se como se cada beijo fosse um último suspiro. Agarraram-se como se se fossem perder. Deitaram-se na cama. Ele tocou-lhe como só ele sabia tocar. Ela sorria, contente. Adorava sentir o corpo pesado dele por cima dela. Sentia-se segura e protegida só com o cheiro dele. Ela olhava o tecto de vidro, conseguia ver as estrelas através deste. A lua cheia que brilhava de uma forma tão exageradamente incandescente. A noite nunca a tinha presenteado tanto como naquela noite.
A temperatura do corpo dele subira. Começou a despi-la. Ele era mais do que apaixonado pelas formas do corpo dela. Ele amava-a como nunca amara nenhuma forma de vida antes.
Nessa noite, ela também o amara. E amaram-se noite fora. Deslumbravam-se um com o outro. Completaram o vazio um do outro, a agitação um do outro. A alma deles era uma só.
Às tantas da manhã estão os dois bem acordados, abraçados um ao outro. A rirem-se, a conversarem. Ele lembra-se algo. Oferece-lhe um pouco de champanhe de uma outra garrafa que ele acabara de abrir, apesar de a outro ainda estar meio cheia. Ela sorri e bebe.
Ela tem sono. Subitamente, sente que o cansaço finalmente a atingiu. Adormece em menos de nada. O céu deixa de brilhar, as nuvens esconde a lua, agora. Ele chora. Ele sufoca com a sua própria tristeza. Agarra uma faca escondida debaixo da cama e começa a esfaquear o amor de sua vida, por entre baba e ranho. Lembra-se de tudo o que já passaram juntos e com uma última facada: diz adeus.
Levanta-se, veste-se. Desliga a doce sinfonia Então os violinos cessam. Ele procura a lua agora escondida pelas nuvens carregadas. Começa a chover.
****
Dois dias depois a chuva continua. Ele deita-se na sua cama de casal. A sua mulher faz-lhe festas no cabelo. Ele não quer saber. Adormece rapidamente. A mulher dele observa-o atentamente. Como pode ele dormir tão pacificamente escondendo um segredo? Hoje ela descobrira que ele andava com outra. Ela deve ser mais bonita, mais nova, mais energética, e paciente. Deve estar em boa forma. Deste que se casou com ele que ela já não é assim.
Ela tem no armário uma toalha de praia com o cheiro dela, a conta de imensas rosas que devem ter sido para a outra, e uma almofada cor de rosas que deve ter sido uma prenda da outra. Pois é da outra que ele gosta. Ela pega na almofada e calmamente pressiona-lhe na face. Ele sufoca. O ar foge-lhe. Ele não quer saber. Ela não consegue viver com a traição.